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Robô da Grécia AntigaDescrição: Robô da Grécia Antiga era movido a trigo.
Aparelho de sábio de Alexandria do século 1 era 'programável' com corda.
Aparelho de sábio de Alexandria do século 1 era 'programável' com corda.
Máquina andava e apresentava show; robótica pode ser ainda mais antiga.
Já era de esperar que o robô mais antigo do mundo não tivesse
cérebro de silício ou fosse movido a eletricidade, mas nem a
mente mais familiarizada com a Antigüidade seria capaz de
imaginar que ele andasse e até apresentasse um teatrinho com a
ajuda de... grãos de trigo.
Quem está desenterrando detalhes sobre o autômato do século 1
d.C. é o cientista da computação britânico Noel Sharkey, da
Universidade de Sheffield. Sharkey vasculhou as obras teóricas
de Heron de Alexandria, o legendário criador do autômato, e diz
ter descoberto que ele é a primeira máquina guiada por um
programa -- tal como os computadores modernos -- cujos registros
chegaram até nós.
Sem disco rígido ou memória RAM, a programação tinha de ser
incorporada ao robô por meio de cordas, que eram enroladas em
determinada seqüência em torno dos eixos de suas rodas
dianteiras. O trigo ajudava a controlar a força motriz: na parte
de trás do autômato, a cordinha que estava enrolada em torno dos
eixos ficava presa a um peso. Esse peso, por sua vez, ficava no
alto de um tubo cheio de grãos de trigo. O tubo tinha um furo,
do qual os grãos iam caindo devagarzinho: assim, o peso ia
baixando cada vez mais, fazendo os eixos rodarem e o robô
inteiro se mover (veja animação abaixo).
Não é a primeira vez que Heron ganha fama de pioneiro
tecnológico. Relatos sobre o inventor, que viveu entre os anos
10 e 70 da Era Cristã (contemporâneo, portanto, de Jesus e dos
primeiros apóstolos, como Pedro e Paulo), dão conta de que ele
criou até a primeira máquina de vender bebidas da história. (A
pessoa colocava uma moeda nela e recebia um jato de água benta.)
Segundo os relatos, o robozinho estudado por Sharkey, além de se
mover por um palco, também apresentava automaticamente um
pequeno espetáculo de fantoches, envolvendo o deus grego
Dioniso, senhor do vinho e do teatro.
Outros mecanismos mirabolantes são conhecidos antes da revolução
da informática no século 20. Leonardo da Vinci, por exemplo,
projetou um leão mecânico que caminhava e apresentava flores,
usando o bicho para homenagear o rei da França em 1515. O
diferencial do robô de Leonardo é que ele era programável: em
vez de desmontar o bicho inteiro para que ele funcionasse de
maneira diferente, bastava modificar a posição de alguns
elementos internos -- no caso, braços que faziam rodar certas
engrenagens, sistema parecido com o de uma caixinha de música.
Em busca de robôs programáveis ainda mais antigos, Sharkey
traduziu o tratado Perí automatopoietikés (Sobre a
fabricação de autômatos), escrito por Heron. No trabalho, Heron
cita alguns de seus predecessores, como Ctesíbio, que viveu dois
séculos antes dele, e explica parte de sua técnica. Segundo
Sharkey, os fabricantes de robôs tinham uma longa escola em
Alexandria, cidade que, embora ficasse no Egito, foi fundada por
Alexandre, o Grande e tinha cultura profundamente grega.
"Eles estavam ligados ao grande museu e biblioteca de
Alexandria. A cidade estava cheia de pesquisadores, e
havia financiamento do governo [primeiro a dinastia grega dos
Ptolomeus, depois os romanos] para a atividade deles",
contou Sharkey ao G1. "Não sabemos sobre a
vida ou posição social deles, mas eles parecem ter tido grande
prestígio e escreveram muitos livros. Ctesíbio era filho de um
barbeiro e mostrou seu talento logo cedo, construindo uma
espécie de espelho hi-tech para seu pai."
Ao que tudo indica, porém, Heron foi muito além de todos eles ao
criar a sua programação de corda. Ele dividiu o eixo das
rodas dianteiras do robozinho, de forma a permitir que cada uma
delas se movesse de forma independente, facilitando a execução
de movimentos complexos. Cada giro da corda em volta dos eixos
equivalia exatamente a uma volta completa das rodas. Assim, por
exemplo, dez voltas da corda em torno de uma metade do eixo e
cinco em torno de outra levaria uma das rodas a dar dez voltas
para a frente e a outra, cinco para trás.
De quebra, havia até um comando de "pausa": pedaços da
corda podiam ser presos com cera à lateral do robô. Enquanto o
pedaço enrolado era puxado e desenrolado, o autômato ficava sem
se mexer. A flexibilidade era muito grande se comparada à
simplicidade de design.
Robótica homérica
A pergunta que fica inevitavelmente no ar é: até que ponto do
passado a tradição de fazedores de robôs pode recuar? Sharkey
cita uma passagem do poeta épico grego Homero (que provavelmente
viveu por volta do ano 800 a.C.), no qual são descritas trípodes
(uma espécie de tripé) criadas pelo deus Hefesto, o ferreiro do
Olimpo. Tais trípodes teriam rodas de ouro "que as
permitiam ir sozinhas para as assembléias dos deuses, uma
maravilha de se contemplar", diz Homero.
"É claro que essa referência é ficcional, mas o intrigante
disso tudo é que robôs em forma de trípode têm um design
excelente, usado ainda hoje. Homero não tinha fama de
engenheiro; portanto, é possível que ele tenha tirado a idéia de
algo que já existia. Ou foi pura sorte. De qualquer maneira,
acho que vale a pena investigar, e é o que estou fazendo",
conclui Sharkey.
Disponível nas áreas de: ciências história tecnologia
Fonte (Acessa para saber mais): g1.globo.com